quarta-feira, 5 de maio de 2010

A Bíblia: Toda a Palavra de Deus d’ uma assentada


Europarque,SMFeira,Sexta-feira,07Maio,2010,21H30
COMÉDIA 135 MIN. [C/ INTERVALO] M/12
The Bible: The Complete Word of God (abridged) de Adam Long, Reed Martin e Austin TichenorEncenação: Juvenal Garcês Interpretação: Pedro Luzindro, Pedro Saavedra, Ricardo CruzEncenação: Juvenal GarcêsTradução: Célia MendesAdaptação: Célia MendesCenografia: Ana BrumExecução da estrutura "árvore da vida": António CunhaFigurinos: Ana BrumDesenho de Luz: Vasco LetriaDesenho de Som: Sérgio SilvaAdereços: Ana Brum, Patrícia RaposoAssistência de Cenografia: Patrícia RaposoAssistência de Figurinos: Patrícia RaposoContra-Regra: João Marta, Patrícia RaposoProdução: Companhia Teatral do Chiado
A Bíblia: Toda a Palavra de Deus (d´uma assentada) de Adam Long, Reed Martin e Austin Tichenor, é um espectáculo que irá certamente pôr todos os portugueses a rir a bandeiras despregadas, e que resulta duma leitura muito particular (mesmo!) e divertida dos principais episódios narrados nos Livros Bíblicos, do Génesis ao Apocalipse. Esta nova encenação de Juvenal Garcês, com as representações duma velocidade de cortar a respiração de Pedro Luzindro, Pedro Saavedra e Ricardo Cruz, desmistifica sem desrespeitar e parodia sem satirizar algumas das principais questões suscitadas pelos textos sagrados e pelo cristianismo, pedindo apenas ao público uma "suspensão da seriedade e uma entrega sem pudor ao discurso humorístico da obra, à genialidade da encenação e à qualidade irrepreensível das interpretações".Uma comédia de bradar aos céus!!!

A Companhia Teatral do Chiado apresenta a sua mais recente produção – A Bíblia: Toda a Palavra de Deus (sintetizada) –, uma comédia hilariante que, como o próprio nome deixa adivinhar, nos presenteia com uma transposição para o palco dos episódios mais significativos dos textos bíblicos. Do Génesis ao Apocalipse, os actores Pedro Luzindro, Pedro Saavedra e Ricardo Cruz dão vida às personagens mais famosas da Bíblia, de Moisés à Virgem Maria, de David a Isaac, dos Reis Magos a Salomé.
esta nova encenação de Juvenal Garcês pretende pôr o público português a rir mas também a pensar sobre algumas das questões mais pertinentes acerca da Bíblia, de Deus e do culto dos livros sagrados: o Dilúvio aconteceu mesmo? Deus é homem ou mulher? Porque é que o Deus do Antigo Testamento parece ser um Deus vingativo e o Deus do Novo Testamento é um Deus misericordioso? Porque é que, na Última Ceia, Jesus e os apóstolos estão todos sentados do mesmo lado da mesa? Sem nunca cair na satirização ou no desrespeito pelo religioso, A Bíblia: Toda a Palavra de Deus (sintetizada) convida o espectador a encarar os textos bíblicos e as questões que estes encerram com uma gargalhada e uma boa dose de sentido de humor.Extremamente bem escrita por Adam Long, Reed Martin e Austin Tichenor, esta obra é ideal tanto para o espectador que não conhece ou que pouco sabe sobre a Bíblia como para o que já leu todos ou a maioria dos livros nela contidos. O primeiro sairá mais conhecedor dos episódios bíblicos, mas ambos terão aprendido – espera-se – a fazer acompanhar a leitura dos textos bíblicos de um sorriso de orelha a orelha. Para assistir a este espectáculo é, de facto, necessário proceder à suspensão da seriedade, da sisudez moral e das leituras dogmáticas da Bíblia e permitir uma aproximação mais leve mas nem por isso mais leviana dos textos sagrados.A Bíblia: Toda a Palavra de Deus (sintetizada) é, sem dúvida, um espectáculo irreverente, quanto mais não seja por, contrariamente ao disposto por Aristóteles na sua Poética, aplicar a máscara da comédia – feita à medida dos homens inferiores – à face e às narrativas das personagens bíblicas, feitas muito mais à medida da tragédia, considerada uma arte superior. É, pois, a arte da comédia, dominada com perícia em A Bíblia (sintetizada), que permite uma democratização do palco, colocando ao nível do comum e usual o que normalmente se encontra associado ao mitológico e sagrado. É esta aplicação do género dramatúrgico da comédia aos textos da Bíblia que, na sua irreverência de aparente desadequação, acabam por tornar o riso impossível de conter, restituindo à comédia o seu justo título de arte superior.Há, de facto, por parte do encenador e das interpretações do extraordinário trio de actores, um convite à desconstrução do discurso sobre o sagrado, através de uma paródia que deixa sobre a mesa problemas relacionados com a construção, interpretação e articulação dos vários livros que compõem a Bíblia. O público é convidado a deixar aberto o terreno à dúvida e ao questionamento, sem nunca ser forçado a dar soluções de que não dispõe e sem nunca ser confrontado com respostas às quais pode eventualmente não aderir. Não se trata, portanto, de um espectáculo de ataque à Igreja ou de desmistificação do sagrado, mas antes de um convite a uma abordagem risonha dos textos da Bíblia.A Bíblia: Toda a Palavra de Deus (sintetizada) é, pois, uma grande comédia, no melhor sentido do termo: ainda que se encontre permeada de comicidade, não convida à piada brejeira nem ao riso fácil. O intuito de Juvenal Garcês e da Companhia Teatral do Chiado não é nem nunca será o de fazer rir por rir, como exercício físico de ginástica muscular, mas sim o de provocar o riso pensante, o riso como exercício de ginástica intelectual.Como lembra o crítico de arte Rubens Ewald Filho, “Morrer é fácil, difícil é fazer comédia”. Difícil será, sem dúvida, mas a comédia é já uma linguagem familiar e destramente dominada por esta fabulosa companhia de teatro que não descansará enquanto não puser a rir todo o país.

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