É uma produção da Seiva Trupe ( companhia com 37 anos de existência ), com textos de António Skármeta ( escritor chileno ), direcção e encenação de Júlio Cardoso, cenografia de José Carlos Barros e interpretação de Júlio Cardoso, Miguel Rosas, Sandra Ribeiro, Sara Barbosa, Ângelo Silva e Jorge Fonseca.Na ilha onde Mário, o Carteiro, vive, o principal ofício é a pesca. Mário não quer ser pescador e arranja trabalho como carteiro. Mas naquele lugar, não se lê nem se escreve e Mário tem um único cliente, Pablo Neruda, poeta chileno que vive na ilha, exilado do seu país. A amizade de Pablo Neruda e a sua poesia transformam a vida de Mário... para sempre... . Imperdível.Está em cena no Teatro do Campo Alegre, Porto, até ao final de Novembro.
Logo no inicio da peça, Neruda diz a Mario ( Miguel Rosas, o actor, excelente! ) que a explicação da poesia significa a morte do poema. A citação não é fiel, mas a ideia que lhe está subjacente é a mesma. Poesia não se explica, sente-se
Mario é jovem, vive de promessas inconcretizáveis pela política e refugia-se nas metáforas de Neruda, porque as palavras conferem um novo sentido à sua vida, dão-lhe a dignidade que a sua condição de filho de pescador pobre não lhe deu ainda e não dará jamais. A sua consciência política vai ganhando consistência desde muito cedo, quando Neruda se afigura como candidato à Presidência da República, pelo Partido Comunista Chileno.É um homem em construção, que Neruda ajudará a moldar.Além de Beatriz, com quem acaba por casar, o grande poeta chileno está no centro da vida de Mario. É por iniciativa própria que o carteiro junta um poema da sua autoria à gravação dos sons da ilha, que Neruda lhe havia pedido.
Quando Don Pablo morre o jovem que Mario era, é agora um homem de 21 anos. Ou seja, o poeta deu-lhe os livros e ensinou-o a falar, mas chegou a hora de caminhar sozinho, de escrever, de ter participação activa na construção social e política do seu país. Isso mesmo nos transmite a cena final, quando Mario é detido para uma acção de rotina. A sua consciência, despertada por influência de Neruda, é tal que pode representar um perigo para o poder instituído.