Logo no inicio da peça, Neruda diz a Mario ( Miguel Rosas, o actor, excelente! ) que a explicação da poesia significa a morte do poema. A citação não é fiel, mas a ideia que lhe está subjacente é a mesma. Poesia não se explica, sente-se
Mario é jovem, vive de promessas inconcretizáveis pela política e refugia-se nas metáforas de Neruda, porque as palavras conferem um novo sentido à sua vida, dão-lhe a dignidade que a sua condição de filho de pescador pobre não lhe deu ainda e não dará jamais. A sua consciência política vai ganhando consistência desde muito cedo, quando Neruda se afigura como candidato à Presidência da República, pelo Partido Comunista Chileno.É um homem em construção, que Neruda ajudará a moldar.Além de Beatriz, com quem acaba por casar, o grande poeta chileno está no centro da vida de Mario. É por iniciativa própria que o carteiro junta um poema da sua autoria à gravação dos sons da ilha, que Neruda lhe havia pedido.
Quando Don Pablo morre o jovem que Mario era, é agora um homem de 21 anos. Ou seja, o poeta deu-lhe os livros e ensinou-o a falar, mas chegou a hora de caminhar sozinho, de escrever, de ter participação activa na construção social e política do seu país. Isso mesmo nos transmite a cena final, quando Mario é detido para uma acção de rotina. A sua consciência, despertada por influência de Neruda, é tal que pode representar um perigo para o poder instituído.
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